A Geopolítica da Tabela: Análise da 35ª Rodada

A 35ª rodada do Brasileirão 2025 não serviu apenas para somar pontos; ela atuou como um revelador de caráter das instituições envolvidas. A análise detalhada dos resultados expõe fragilidades emocionais e exaustão física que contradizem a lógica financeira dos "superclubes".
A Disputa pelo Título: Hegemonia, Hesitação e o "Medo de Vencer"
A narrativa predominante na mídia esportiva, ecoada por analistas, sugere um cenário de "campeonato de erros", onde o título será herdado pelo time que cometer menos falhas catastróficas, em vez de ser conquistado por aquele que apresenta o futebol mais vistoso.
Flamengo: A Ilusão da Estabilidade no Maracanã
No dia 22 de novembro de 2025, o Clube de Regatas do Flamengo recebeu o Red Bull Bragantino no Maracanã e aplicou uma vitória contundente de 3 a 0. À primeira vista, o resultado sugere uma retomada de autoridade. A performance ofensiva, criticada em rodadas anteriores pela falta de eficácia, parece ter encontrado um prumo na reta final. Entretanto, uma análise mais profunda do discurso midiático revela ceticismo. A vitória sobre o Bragantino, embora expressiva no placar, é contextualizada dentro de uma temporada de oscilações extremas. A narrativa de "arrancada heróica" é tentadora, mas analistas ponderam se o Flamengo está vencendo por mérito tático ou simplesmente capitalizando o colapso físico de seus rivais diretos. O placar elástico serve, contudo, para inflamar a "Nação", criando um clima de "já ganhou" que historicamente precede tragédias desportivas ou consagrações épicas. Para a coluna, a ironia reside na bipolaridade da torcida: a mesma massa que vaiava o time há duas rodadas agora lota o Maracanã com a certeza do título.
Palmeiras: A Paralisia Tática no Allianz Parque
O empate em 0 a 0 contra o Fluminense, ocorrido em pleno Allianz Parque também no dia 22 de novembro, representa o ponto de inflexão negativa da rodada. Jogando em casa, contra um adversário que oscila na competição, a obrigação da vitória era absoluta para um time que persegue o líder.
O resultado expõe um excesso de "rezar na cartilha" da austeridade ou do pragmatismo, em detrimento da ousadia necessária para momentos decisivos. O Palmeiras de Abel Ferreira, frequentemente elogiado pela força mental, demonstrou sinais de ansiedade paralisante. A incapacidade de furar o bloqueio defensivo do Fluminense não foi apenas um tropeço estatístico; foi um golpe psicológico. A mídia explora a narrativa de que o Palmeiras "amarelou" diante da pressão de ter que vencer para manter a caça ao Flamengo. Para o humor da coluna, a imagem de um time milionário incapaz de marcar um gol em 90 minutos diante de sua torcida é um prato cheio para sátiras sobre "eficácia versus eficiência".
Botafogo: O Drama do "Cavalo Paraguaio" e a Redenção Física
O confronto entre Botafogo e Grêmio, finalizado em 3 a 2 para os cariocas no dia 22 de novembro, foi indiscutivelmente o jogo mais dramático da rodada. O desgaste físicoé o principal adversário do Botafogo.
O clube carioca vive um paradoxo: mantém-se na briga pelo título (ou pelo G4 direto) operando no limite fisiológico de seus atletas. A expectativa de que o Botafogo fosse um "míssil Patriot" — preciso, tecnológico e letal — foi substituída pela realidade de um time que vence "nos trancos e barrancos". O jogo contra o Grêmio ilustra isso perfeitamente: o Botafogo abriu vantagem, cedeu o empate e buscou a vitória na base do desespero e da individualidade, contrariando a lógica de controle tático. Um detalhe cultural crucial emerge deste jogo: a comemoração viral do lateral Cuiabano. Ao marcar, o jogador correu para dançar com as líderes de torcida do Botafogo, numa quebra de protocolo que viralizou instantaneamente nas redes sociais. Este momento é a essência da "Pelada da Semana": o futebol como espetáculo pop. A "dança do Cuiabano" oferece uma metáfora visual perfeita para um time que, mesmo cambaleando de cansaço, ainda encontra energia para o show.
A Zona de Rebaixamento: O Cemitério de Gigantes
Se a disputa pelo título é marcada pela hesitação, a luta contra o rebaixamento (Z4) é definida pelo desespero cru e pela tragédia anunciada de instituições centenárias. A rodada 35 foi particularmente cruel com Vasco da Gama, Corinthians e Santos.
O Calvário Cruzmaltino e a Reação Digital
A derrota do Vasco da Gama por 1 a 0 para o Bahia, na Arena Fonte Nova, consolidou a quinta derrota consecutiva da equipe no campeonato. O gol de Erick Pulga não apenas garantiu os três pontos ao Bahia, recolocando-o na briga pela Libertadores, mas empurrou o Vasco para uma crise existencial profunda.
A Humilhação Corinthiana no Mineirão
O Corinthians sofreu um revés devastador ao perder por 3 a 0 para o Cruzeiro no Mineirão. O placar elástico reflete um colapso defensivo total, mas a repercussão midiática focou na "falta de respeito" percebida pelos ídolos do clube.
A presença de estrelas internacionais no elenco, como Memphis Depay, torna a derrota ainda mais irônica e amarga. O investimento massivo em "grife" não se traduziu em solidez competitiva. Para a coluna, a piada reside na discrepância entre o marketing (o Corinthians "Hollywoodiano") e a realidade (o futebol de "várzea" apresentado em Belo Horizonte).
O Santos e o Fantasma da Série B
O empate do Santos em 1 a 1 com o Mirassol coloca o time da Vila Belmiro em uma situação de extremo perigo. O Mirassol, um clube do interior paulista com uma fração do orçamento santista, jogou de igual para igual, expondo a decadência técnica do Peixe. A proximidade do jogo contra o Internacional é tratada pela imprensa gaúcha e paulista como um evento de "vida ou morte". A possibilidade de um novo rebaixamento, ou de falhar no acesso (dependendo do contexto exato da tabela de 2025, onde o Santos parece oscilar entre a queda e a mediocridade), cria um clima de tensão insuportável na Baixada Santista.
Resultados Complementares e Contexto da Série B
Para completar o quadro da rodada, é necessário mencionar a vitória do São Paulo por 2 a 0 sobre o Atlético-MG. Este resultado deve ser lido sob a ótica da final da Copa Sul-Americana. O Atlético-MG, focado na decisão continental contra o Lanús (onde acabou derrotado nos pênaltis em Assunção, Paraguai), entrou em campo pelo Brasileirão desmobilizado ou com reservas. O São Paulo, cumprindo tabela com eficiência, aproveitou-se da situação.
Na Série B, o cenário de "terra arrasada" também se fez presente. O Criciúma perdeu para o Cuiabá por 1 a 0, desperdiçando a chance de acesso, enquanto o Coritiba sagrou-se campeão, garantindo o retorno à elite. Este movimento de "sobe e desce" reforça a natureza cíclica e cruel do futebol brasileiro, onde a glória e a ruína estão separadas por uma rodada.
Tabela 1: Resumo Crítico da Rodada 35 (Série A 2025)
|
Jogo |
Placar |
Contexto Crítico |
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Flamengo x Bragantino |
3 - 0 |
"Arrancada" ou ilusão de ótica? Maracanã em festa. |
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Palmeiras x Fluminense |
0 - 0 |
Paralisia no Allianz. Abel Ferreira "travado". |
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Botafogo x Grêmio |
3 - 2 |
Vitória no sufoco. Polêmica do VAR. Dança do Cuiabano. |
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Cruzeiro x Corinthians |
3 - 0 |
Massacre tático. O mistério do replay desaparecido. |
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Bahia x Vasco |
1 - 0 |
Vasco em queda livre (5ª derrota). Bahia sonha com G6. |
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São Paulo x Atlético-MG |
2 - 0 |
Galo de ressaca pós-Sula (vice). SPFC cumpre tabela. |
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Santos x Mirassol |
1 - 1 |
O gigante sangra diante do pequeno organizado. |
Autor(a) : Emerson Gonçalves
Publicado em: 24/11/2025
Última atualização: 02/12/2025
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