
Coisa de menino, coisa de menina!
São tempos difíceis para os tradicionais, não é mesmo? As coisas de menina ainda são sim separadas das coisas de menino. As meninas ainda gostam de um dia de beleza em um salão, cuidando dos cabelos, fazendo massagem, maquiagem. Assim como tem aquele churrasco com muita cerveja pra ver o jogo de futebol e conversar sobre um monte de bobagem, para os meninos. Tentar unificar algo que ainda é cultural vai levar um tempo.
Quando nós mulheres somos adolescentes, já começamos a ter vergonha de algumas coisas. Os seios começam a crescer, o bumbum a aparecer. Nesse momento, a maioria de nós quer sumir, não quer ser notada. A fase da aceitação disputa espaço com a chegada dos hormônios, e aos poucos vamos nos aceitando. Algumas viram mulheres bem mais rápido, desabrocham com mais velocidade. Os homens já ficam mais confiantes neste período, querem logo é crescer, ganhar pelos no corpo, criar músculos.
E quando o bebê nasce automaticamente quem fica com ele? Quem deixa de trabalhar, quem perde a maioria das noites de sono? Quem deixa o emprego para se dedicar aos filhos e a casa? Agora começaram a aprovar a licença paternidade, para que os homens possam fazer parte deste momento (e ajudar neste processo). E já ouvi muita gente por aí falando que é um absurdo, porque o homem é o principal provedor da casa, não pode estar nesta situação. No caso é o provedor porque tem mais tempo e oportunidades, fato. Mas claramente, as coisas das meninas e as coisas dos meninos.
Aqui na minha casa todo mundo lava a louça. Meu marido vai ao mercado fazer compras, e às vezes eu não quero ir, fico vendo televisão no sofá. Trocando os papéis e ninguém reclama. Na casa dos meus pais e sogros, depois do almoço, as mulheres vão pra cozinha arrumar tudo e os homens ficam no sofá conversando e tomando um cafezinho. Como antigamente! A maioria aprende assim, repassa assim também.
Mas por que falar disso nesta coluna? Para normalizar que algumas pessoas aprenderam assim, não são 100% culpadas de ainda separar o que é da menina e o que é do menino. Por que ainda se faz um chá de bebê usando cores temáticas para os sexos dos bebês? Por que quando vamos comprar roupas vamos às seções do nosso gênero escolher peças que nos agradam? Porque é cultural, vem passando pelos nossos familiares, vamos levando adiante para nossa comunidade.
Tem gente achando que errado é quem ainda não generalizou tudo, sem prestar atenção nas suas atitudes de ódio e falta de empatia. Quando falamos dos nossos pais e familiares, aceitamos que eles ainda estão se moldando (ou não) a este momento. Passamos a mão nas suas cabeças, desculpamos. Mas para criticarmos e apontar uma pessoa lá do outro lado do país já é bem mais fácil, além de ser bem rápido. Queremos empatia conosco, mas não queremos ter empatia com os outros! Tem gente sem paciência com muita pressa de resolver isso. E resolver de qualquer forma, infelizmente...